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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Caminhos



Hoje, lá do hospital, onde está meu marido, escutei tocar o sino da igreja matriz. Um som que fez parte da minha infância , diariamente, e que há tanto tempo eu não ouvia.
Lembrei então que naqueles tempos, os sonhos que em mim palpitavam, nem de leve entreviam o que a realidade iria me apresentar. Ai que saudade dos meus sonhos!...
Na infância, nos habituamos aos contos de fadas, nos vemos como princesas. E princesas não sentem medo, não choram de saudade, não envelhecem, não têm rugas e quando encontram seus príncipes, são felizes para sempre.
Lá na minha infância, quando o sino tocava, eu não podia imaginar o quanto seriam curtos os meus "para sempre".  Se naquele tempo, eu soubesse, não teria sonhado com tão frágeis sapatinhos de cristal! Eles machucam meus pés e me fazem tropeçar pelo caminho!

Quantos caminhos a vida nos reserva...
caminhos de chorar,
saudade e dor ;
Caminhos de sorrir,
alegria e amor...

Quantos caminhos a vida nos reserva...
caminhos de angústia,
medo e solidão;
Caminhos de encontro,
fé e contemplação...

Caminhos que desembocam
em atalhos de ilusão,
estradas de sofrimento,
esquinas de sedução.

Caminhos que atravessam
pontes de pensamentos,
rios de risos, prantos,
mares de sentimentos.

Quantos caminhos a vida nos reserva...
de curvas de não e de sim,
desertos que atravessamos,
buscando miragens sem fim.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entre Rendas e Retalhos



"...um romance é feito de sobras. A poesia é núcleo. Mas é preciso paciência com os retalhos, com os cacos. Pessoas hábeis fazem com eles cestas, enfeites, vitrais, que por sua vez configuram novos núcleos. Será esta pensamento vaidoso? Por certo. Quero ser um poeta extraordinário e desejo poder escrever um teatro muito engraçado pra todo mundo rir e até ficar irmão."
A partir dessa colocação, vinda de uma personagem de Adélia Prado, escritora que admiro, desde o primeiro livro que me caiu nas mãos, passo a pensar na minha vida, na minha inspiração para escrever, no meu trabalho de artesanato.
Desde os 16 anos, escrevo em cadernos, poesia, prosa, pensamentos, enfim,  que me vêm à cabeça. E acho interessante pensar que nem tudo chega pronto. Quantas vezes, caminhando à tardinha no calçadão da praia, tive que voltar correndo até o carro para escrever poesia inteira, em qualquer pedaço de papel, por medo de perder as palavras pelo caminho. Outras vezes, tarde da noite, buscar lápis e papel e anotar tudo bem depressa, para descobrir, no dia seguinte, que nada fazia sentido, a não ser que se mudasse a ordem dos versos, das vírgulas, das palavras.
Outras muitas vezes, me surgem  pensamentos compriiidos, que não consigo terminar, encaixar ou concluir.
Esses guardo numa pasta, como pequenos retalhos, que mais tarde fazem parte de uma nova poesia, de um novo texto e se encaixam perfeitamente! São fragmentos, pequenas pontas de um grande novelo, que exigem nova inspiração e paciência para desembaraçar e tricotar.
No artesanato, tenho também me utilizado de retalhos, de sobras para construir novas peças. Pedaços de renda, restos de fita, linhas, retalhos. Unidos, esses restos ganham lindas e coloridas formas.
Coincidência? Não sei! O que sei é que assim tenho construído minha história, tenho contado a minha vida e vivido meus amores. Tenho juntado palavras, sentimentos e pessoas.
Verdadeira colcha de retalhos, onde cada pedaço têm sua beleza e sua história, contada e costurada com minhas próprias mãos.