Páginas

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

FOTOGRAFIA

Fotografia em branco e preto de um momento paralisado no tempo, em imagem que se perpetua.
Confesso que seus olhos naquela fotografia antiga, me encantaram.
Olhar misterioso que reflete e constata a vida.
Olhos famintos de cor, de amor, de respostas.
Foi como rever os meus olhos e refletido neles, os meus sonhos.
Olhos serenos, tranquilos que procuram ver além.
Sob que perspectiva teriam apreciado a vida?
Que visão tiveram de si mesmos?
Olhos que conhecedores da angústia, se lançam em abismos.
Olhos de ternura.
Olhos de saudade.
Olhos que riem e choram, testemunham a realidade, guardam imagens no tempo e espelham lembranças e esperanças que depois que a mente anoitece, dançam e brilham no escuro quando os olhos adormecem.

* Não cheguei a conhecer meus bisavós e quando me deparei com uma foto da minha bisavó paterna, me dei conta do quanto me sentia próxima dela, sem nunca tê-la visto.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O TEMPO

   O tempo corre veloz pelas avenidas da vida e sua força incontrolável penetra os caminhos, alcança os momentos, determina as chegadas e as partidas.
   Sua atuação é justa e imparcial e seu alcance poderoso atinge e amorna as paixões, encoraja os sonhos, desafia os medos e determina os tênues limites entre a noite e o dia, a mentira e a verdade, o amor e o ódio, o bem e o mal.
   Podemos sentí-lo escapando sorrateiro entre os dedos, escapulindo apressado por frestas e poros, se derramando caprichoso nas horas.
   Sempre intocável, arredio, inquieto, inexplicável.
   Viajante eterno das galáxias, da imensidão dos mundos, traz à tona memórias, lembranças, saudade, permitindo aos mais persistentes, desvendar o véu dos grandes mistérios que envolvem a vida.
   Seu desafio é o infinito, seus limites são indeterminados, impenetráveis e sua busca obstinada e incessante é pelo inatingível encontro com o inexorável poder da Eternidade.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

POESIAS

                I

Sou estrela em céu nublado
em noite vazia de mim,
Sou nascente em solo árido
em terra sedenta de mim.

Onde estou, nem mesmo sei
aqui ou ali, tanto faz...
Onde estive, onde estarei,
talvez não saiba jamais...

Passa o tempo sem piedade,
numa viagem  sem fim
na vida deixa saudade,
sem dó nem licença de mim.

                                                                        II


Conhecer-se é abrir caminhos,
Juntar retalhos,
Buscar atalhos,
Enfrentar moinhos.

Conhecer-se é encarar os riscos,
Lutar com espelhos,
Se dar conselhos,
Juntar os ciscos.

Conhecer-se é enfrentar verdades,
É virar do avesso,
Planejar o recomeço,
É chorar saudades.

Conhecer-se é limpar porões,
Vasculhar memórias,
É reler histórias,
É abrir portões.

Conhecer-se é lançar raízes,
Ultrapassar fronteiras,
É fincar bandeiras,
Perceber matizes.

Conhecer-se é, enfim,
Retratar-se, auscultar-se,
Sentir-se, mostrar-se.
E ser feliz assim.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ESTRELA SOLITÁRIA





Estrela Solitaria

Miúda, de olhos grandes e inquietos. Negros como a noite , cheios de nuvens que a vida se incumbiu de formar e vez ou outra se tornaram verdadeira chuva de lágrimas que lavou a alma, revelou as dores, mas permitiu uma nova visão do mundo.
Lutou a vida inteira. De seu, só o corpo que lhe serviu de abrigo neste mundo, o espírito que lhe permitiu voar e caminhar entre as estrelas, os sonhos escondidos que falavam de amor, os segredos guardados no fundo do coração.
Esperança? A de viver mais um dia, dentro de uma paz possível, sem medo, disposta a tudo para encontrar no sol, a força para o trabalho e na lua, o descanso proporcionado pelo dever cumprido.
Solitária presença a preencher a vida de muitos, foi fonte de consolo e equilíbrio para os que buscaram em seu colo, em suas histórias e em seu incansável poder de amar, abrigo e conforto. Cuidar de muitos, alimentar todos, satisfazer os diversos desejos e ensinar o respeito pela vida, pela natureza, pela necessidade do outro.
Conhecia a alma de cada um, era o que parecia. Viveu por isso, sempre cercada de filhos e netos que nunca foram seus de verdade, de sangue. Foram filhos e netos do seu espírito de amor e dedicação.
Exímia conhecedora de ervas, tudo sabia a respeito de chás, poções e ungüentos que tudo curavam ou aliviavam, num tempo em que a medicina era artigo de luxo.
Difícil era lhe fazer rir, afinal a vida é coisa séria, complicada de se viver, e decifrar seus caminhos exige razão, sensibilidade, seriedade e sabedoria. Não o saber que se aprende na escola, nas letras. Mas o saber que se conquista todo dia, observando os gestos e movimentos da natureza, dos animais, dos seres humanos. E os mais complicados são estes últimos. Ah! Se são! Sempre preocupados em ter. Ter tudo! Sorte, amor, riqueza, poder, sucesso, felicidade, paz.  De preferência, tudo “caidinho do céu”. Tudo conseguido sem muito esforço, sem muito ter que se mexer ou “fazer por onde”.
E alguns conseguem tanto, que pouco ou nada sobra para outros. E ela se encaixa nesses “outros”, pra quem a vida não sorriu muito.
Reclamar? Adiantaria de quê? Não muda nada quando se clama no deserto. A cada um, sua cruz e seu quinhão, é o que se diz.
O silêncio consegue mais, alcança mais.
O silêncio constrói e alimenta por dentro, nos torna resistentes, intuitivos, consistentes diante da vida.
Solitária dor que amanheceu e anoiteceu, muda, quieta, calada pelos cantos da alma.
Solitária dor que vez por outra atravessava o espaço e alcançava o coração de um poeta, de um cantador, que parecia sentir no peito a mesma dor ou então adivinhar o que ia na alma de quem sofre. E então cantar é como exorcizar a dor.
E sua vida era cantar!
Cantar o tempo, a vida que segue como um rio, a nuvem que muda de forma e direção ao sabor do vento, o amor secreto que teima em buscar a luz e se mostrar ao mundo, os movimentos do mar que nunca se viu e não se faz idéia de como será. Cantar é bom! Encanta a vida.
A vida passa, sem que se dê conta disso. Arar o terreno que nos cabe, plantar, esperar pela colheita. Um dia depois do outro, um sonho atrás do outro, até que a noite chegue sem fim.
Poderemos então, entoar outra canção. Mais leve, radiante, que brota do universo, feita de notas doces, suaves, que encantam o espírito e se espalham pelo espaço em forma de luz, até que plenas de amor se transformam em estrela, que luminosa pisca para nós, ao ritmo dessa canção de paz.
E toda vez que olho para o céu à noite, busco a presença dessa solitária luz. Uma estrela-mulher que certamente terá o brilho do amor, e cantará eternamente, canções que nos permitam adormecer com o coração tranqüilo.

domingo, 25 de setembro de 2011

FELICIDADE

Quero esperar da vida o que ela me trouxer. Nada de ansiedade, de medos ou inquietações.
Assim, gostaria de viver... Um dia de cada vez, sem pressa, sem sustos, sem desilusões. E sabe que tenho tentado?
Mas é difícil e quando menos espero, lá estou eu exigindo da vida tudo aquilo que penso ser meu, por direito. As vitórias que almejamos, nunca chegam por inteiro, mas em conta-gotas, bem bem devagarinho. Avançamos e recuamos todos os dias.
E há dias em que o corpo e o espírito , esperam e anseiam por mais. E o mais não vem e o que fazer com tantas expectativas?
Construí um ninho para o amor e cuido dele, noite e dia, dia e noite, sem descansar um minuto que seja. Espero por ele todos os dias, pressinto sua chegada, escuto seus passos, ouço sua voz e espero sempre que ele entre de mansinho e que mesmo esperando, eu ainda assim me surpreenda.
Sei que a ansiedade é inimiga, que termina por alongar a ausência e prolongar a espera, mas às vezes é tudo que sobra... A espera.
E dizem que sou forte, paciente. Talvez sim, mas também tenho medo, conheço a solidão e sinto dor.
Tenho medo de que o amor que chega, não seja o mesmo que partiu, que a velhice chegue e me encontre ainda esperando o que não terei mais tempo de viver.
E passo pelos espelhos revendo imagens de ontem, de quando o amor aqui morava, conversava comigo, me amava e me fazia feliz. Lembro de seus encantos, de seu olhar maroto, de sua vitalidade, de seus risos, de suas promessas e segredos. E busco nessas lembranças, motivos pra me alegrar, como álbum de antigas fotos que fazem rir e chorar.
Há pessoas que tem medo de amar, de se entregar, de sofrer, de arriscar, de viver, enfim. Talvez fosse mais tranquilo ter permanecido no meu canto, no meu mundo, mas optei por buscar a felicidade e ela fugiu de novo, sem que eu pudesse guardá-la.
Bem, mas mas a felicidade nasceu para ser livre, não para ser aprisionada. Sua natureza é nômade, se utiliza de várias faces, de várias nuances e cores e deixa saudade por onde passa.
Tive o privilégio de conhecê-la, viveu comigo por um curto período de tempo, mas até hoje, continuo acreditando na sua promessa de voltar. Prometeu? Sim, tenho certeza de que, em algum momento, ela me prometeu isso.
E assim que ela entrar pela porta, faço questão de fazer uma grande festa, com muita música para dançar, dançar e dançar. E espero que dançando de rosto colado ela possa me falar da saudade que sentiu e do seu desejo de nunca mais viver longe de mim.
Não demora, Felicidade! Volta depressa pra mim!